A Fragmentação da Luta: O Imperativo da Unificação Sindical na Polícia Penal de São Paulo
Já falamos sobre a inércia do indivíduo, que muitas vezes se esconde atrás da folga para não lutar. Já falamos sobre o coletivo, que se perde em divisões internas e falta de visão estratégica. Mas agora é preciso lançar luz sobre a cúpula, os próprios sindicatos.
Se a tropa está desorientada, é porque as bússolas estão apontando para direções diferentes. Com a criação da Polícia Penal de fato em 2024 e a consolidação da nova Lei Orgânica, o cenário mudou, mas as lideranças sindicais parecem presas a um passado de siglas, cadeiras presidenciais e disputas de base que já não servem mais ao policial que está na linha de frente.
São Paulo possui a maior Polícia Penal da América Latina, mas essa força é diluída por quatro sindicatos que, muitas vezes, parecem mais preocupados em marcar território do que em conquistar vitórias. É hora de falar a verdade... essa briga é boba, é anacrônica e é o maior presente que poderíamos dar ao Governo do Estado.
O princípio romano "Dividir para Imperar" nunca foi tão bem aplicado quanto no sistema prisional paulista. Quando o governo olha para a Polícia Penal e vê quatro ou cinco siglas diferentes batendo à sua porta, ele sorri. Ele sabe que, enquanto os líderes sindicais discutem quem tem o direito jurídico de representar a nova carreira, a pauta salarial, a saúde mental do servidor e as condições de trabalho ficam em segundo plano.
A existência de múltiplos sindicatos cria um ruído de comunicação ensurdecedor. Cada entidade lança uma nota oficial diferente; uma convoca para uma paralisação enquanto a outra diz que é momento de diálogo. O resultado? O policial penal no plantão fica confuso, sente-se desamparado e, por fim, se retira da luta. A fragmentação gera apatia, e a apatia é o combustível da derrota.
O ASP e o AEVP morreram, nasceu o Policial Penal.
Historicamente, a divisão sindical fazia sentido quando tínhamos carreiras distintas com atribuições diferentes (segurança interna e vigilância externa). Mas esse tempo acabou. A Lei Orgânica unificou a categoria. Hoje, somos todos Policiais Penais.
Manter sindicatos separados baseados em origens de carreira que não existem mais juridicamente é manter uma cicatriz aberta que já deveria ter cicatrizado.
Por que ainda existem barreiras entre o Sindcop, o Sinppenal, o SindPenal e o Sindppesp? Se o objetivo final de todos é a valorização do policial, o que os separa não é a ideologia, mas a burocracia e, infelizmente, o ego.
O policial que está no raio sofrendo com a superlotação não quer saber se o sindicato "X" tem 30 anos de história ou se o sindicato "Y" nasceu da escolta. Ele quer um aumento digno, uma escala humana e segurança jurídica.
Quem será o Presidente não Importa. Chegamos a um momento de maturidade institucional em que o "quem" deve ser irrelevante perante o "o quê". A briga por quem vai ocupar a cadeira da presidência de uma futura federação ou sindicato unificado é pequena diante da magnitude da nossa missão. Se os atuais presidentes — Jabá, Ramos, Branquinho, Barreto e tantos outros — realmente desejam o bem da categoria, eles precisam estar dispostos a dar um passo atrás em prol de um projeto maior.
Uma unificação exige desprendimento. Pouco importa o nome da nova sigla. Pode se chamar "Sindicato Único", "Polícia Penal Unida" ou qualquer outra nomenclatura. O que importa é que, quando esse sindicato convocar, 20 mil homens e mulheres saibam que aquela é a única voz oficial.
A união institucional traria um poder de barganha tão avassalador que o Governo não teria outra opção senão sentar à mesa com respeito.
Além da força política, há a questão pragmática. Quatro sindicatos significam quatro estruturas administrativas, quatro departamentos jurídicos, quatro sedes e quatro folhas de pagamento. Imagine se todos esses recursos fossem centralizados em uma única "caixa de guerra".
Teríamos o departamento jurídico mais poderoso do funcionalismo público paulista. Teríamos capacidade financeira para campanhas de mídia em horário nobre, denunciando os abusos do sistema à sociedade.
Teríamos subsídios para apoiar policiais em dificuldades extremas de forma muito mais eficiente. A pulverização financeira é um desperdício do dinheiro do trabalhador.
A briga dos sindicatos reflete diretamente na falta de união nas unidades prisionais que mencionei anteriormente. Se as lideranças não se entendem e se atacam em grupos de WhatsApp e redes sociais, como podemos exigir que o "antigão" e o "novato" se abracem no plantão? O exemplo deve vir de cima.
Quando um sindicato faz um "comunicado" contra a estratégia de outro, ele está legitimando a cultura do comunicado entre parceiros de equipe. É preciso restabelecer a ética da irmandade. A união sindical seria o maior gesto simbólico de reconciliação que a categoria poderia receber. Seria o sinal verde para que as bases também fizessem as pazes.
Fusão ou Extinção
A sobrevivência da representação da Polícia Penal passa obrigatoriamente pela mesa de negociação entre os próprios sindicatos.
É preciso criar uma comissão de transição, um fórum permanente onde as vaidades sejam deixadas na porta. A categoria não aguenta mais ser espectadora de brigas de egos enquanto perde direitos.
O momento de "testar forças" entre siglas passou; agora é o momento de somar forças contra o verdadeiro adversário.
O título de maior Polícia Penal da América Latina é pesado demais para ser carregado por mãos separadas. Ele exige um único punho, firme e coeso.
Aos líderes sindicais, o recado da tropa é claro: unam-se ou serão atropelados pela história.
Não queremos mais quatro sites, quatro lives e quatro discursos. Queremos uma única bandeira. Queremos que, quando a Polícia Penal de São Paulo se movimentar, o Palácio dos Bandeirantes trema.
E isso só vai acontecer quando os sindicatos pararem de olhar para os próprios umbigos e passarem a olhar para o policial que, neste exato momento, está trancando um pavilhão com 500 presos sozinho, esperando que alguém, em algum lugar, lute por ele de verdade.
União Total. Sigla Única. Polícia Penal Forte.
Edson Moura (Policial Penal de Parelheiros)

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