A Perseguição ao Presidente do Sindicato dos Policiais Penais de São Paulo, Fábio Jabá
A luta por melhores condições de trabalho e valorização profissional é, por essência, uma batalha árdua. No entanto, para o presidente do Sindicato dos Policiais Penais de São Paulo, Fábio Jabá, essa luta transcendeu o campo das negociações sindicais e transformou-se em um drama pessoal marcado pela perseguição institucional, processos administrativos e, o mais grave, a suspensão de seu próprio sustento.
Este cenário expõe as fragilidades de um sistema que, ao invés de dialogar, opta por silenciar as vozes dissonantes, e revela as barreiras internas que a própria categoria enfrenta para alcançar a união necessária.
O Preço da Cobrança
Suspensão Salarial e Necessidade de Ajuda Financeira
A denúncia é direta e alarmante: Fábio Jabá, líder sindical que cobra incessantemente a implementação da Polícia Penal e condições dignas de trabalho, foi punido com 60 dias de suspensão sem salário.
Em vídeos publicados em suas redes sociais, Jabá relata a punição e denuncia a hipocrisia de "dois pesos, duas medidas" da administração pública. O motivo da punição, segundo o próprio sindicato (Sinppenal), foi a gravação de um vídeo dentro de seu veículo, uma ação vista como uma tentativa de calar a voz de quem defende a categoria.
Essa suspensão salarial não é apenas uma medida administrativa; é uma tentativa de asfixia financeira que atinge o cerne da dignidade do trabalhador. A situação chegou a um ponto crítico onde Jabá, presidente de uma entidade de classe, precisou pedir ajuda financeira aos próprios colegas de farda para suprir necessidades básicas.
Esse fato, por si só, é um grito de alerta sobre a gravidade da perseguição e a vulnerabilidade a que os líderes sindicais são expostos quando desafiam o status quo da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP).
A mensagem da administração parece ser clara: a cobrança por direitos tem um custo pessoal elevado.
O sindicato interpreta essa ação como parte de um esforço maior da Secretaria para "calar toda e qualquer voz discordante".
O Modus Operandi
Processos Administrativos e Sindicâncias como Ferramentas de Silenciamento
A perseguição não é um evento isolado, mas um padrão. Fábio Jabá e outras vozes ativas, como o "Poeta Wiltinho", que também denuncia a realidade do sistema prisional e a perseguição na SAP, enfrentam uma enxurrada contínua de Processos Administrativos Disciplinares (PADs) e sindicâncias.
Esses instrumentos, que deveriam garantir a ética e a disciplina, são, na visão da categoria, deturpados para fins de retaliação política. A tática é conhecida: desgastar o líder sindical emocional e financeiramente.
O volume de processos cria um ambiente de medo e insegurança, desencorajando outros policiais penais a se manifestarem ou a participarem ativamente das lutas sindicais. A perseguição política, como descrita em reportagens do Metrópoles, torna-se a norma para quem ousa utilizar as redes sociais ou canais de comunicação para expor os problemas do sistema.
A Autossabotagem da Categoria: A Divisão ASP e AEVP
Apesar da perseguição externa, a luta por um sindicato forte encontra um obstáculo interno ainda mais desafiador: a divisão entre os próprios policiais penais.
A categoria insiste em manter uma cisão histórica entre Agentes de Segurança Penitenciária (ASP) e Agentes de Escolta e Vigilância Penitenciária (AEVP), uma divisão que, na prática, já não deveria existir com a criação da Polícia Penal do Estado de São Paulo por meio da Lei Complementar n° 1.416, de setembro de 2024, que unificou as carreiras.
Essa fragmentação interna é um fator de enfraquecimento.
Enquanto a administração pública age de forma coesa, a categoria se divide em subgrupos, facilitando as manobras do poder público para evitar a união e a pressão eficaz.
Fábio Jabá defende um sindicato robusto e coeso, argumentando que a luta transcende as antigas nomenclaturas e exige uma frente única. A falta de união é lamentável, especialmente quando se sabe que a Polícia Penal de São Paulo possui um dos piores salários entre as forças de segurança pública do Brasil, um dado que por si só deveria servir como catalisador para a união.
O Caminho para a Força: Representação Parlamentar e Coesão
A luta de Fábio Jabá não se limita a denunciar a perseguição, mas a apontar o caminho para a solução dos problemas estruturais da categoria.
A necessidade de representação parlamentar é um ponto crucial. Um sindicato, por mais combativo que seja, tem poder limitado nas mesas de negociação se não houver um respaldo político e legislativo forte.
A entrada de membros da categoria na política, como tentado por outras figuras históricas, é vista como essencial para garantir que as demandas dos policiais penais sejam ouvidas diretamente onde as leis e os orçamentos são decididos. Apenas com representantes eleitos será possível corrigir as falhas na Lei Orgânica, garantir promoções e valorizar os aposentados, direitos que, segundo Jabá, têm sido negligenciados.
A superação das divisões ideológicas — esquerda ou direita, subordinado e superior — é o desafio final.
A segurança pública e a dignidade profissional deveriam ser pautas suprapartidárias e hierárquicas.
Em conclusão, a história de Fábio Jabá é um microcosmo dos desafios enfrentados pelos servidores públicos que ousam lutar por dignidade.
A perseguição que sofre é real e dolorosa, mas serve como um poderoso lembrete de que a união, a coesão e a representação política são as únicas ferramentas capazes de transformar a realidade de uma categoria que lida diariamente com um dos trabalhos mais árduos e perigosos do país.
Edson Moura (Policial Penal de Parelheiros)

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